domingo, 25 de julho de 2010

11/01/2009 DENISE ESTREMECEU

Denise estremeceu quando ouviu a voz grave, meio rouca, do outro lado da linha. De imediato, não conseguiu reconhecê-la, mas sabia que pertencia a alguém que tinha passado por sua vida. — Oi, meu nome é Lia e procuro uma moça chamada Denise, que morou em Santana nos anos 80. Achei seu número na lista. Você a conhece? — Sou eu mesma — respondeu Denise, seca. — Oi, tudo bem? Que bom ter encontrado você. É a Lia, lembra-se? A gente morava na mesma rua e íamos juntas pra escola, no colegial. Como você está, menina? É lógico que Denise se lembrava. As duas eram muito próximas, confidentes até. Mas Denise quis se afastar da amiga e a apagou da memória. Não fez de caso pensado. Mas, agora, escutando a mesma voz ao telefone, percebia o quanto aquela menina, agora mulher, a incomodava. O caso foi o seguinte: Denise tinha 17 e Lia, 15. Denise, como toda adolescente, tinha um amor secreto: Ronaldo. Quando apresentou o rapaz à amiga, os dois se apaixonaram. Denise fez de conta que não se importou, mas se remoía de raiva. — Eu não ligo! Ciúmes é bobagem. E eu não tinha nada com ele mesmo — garantiu para a amiga, assim que ela contou para Denise que estava namorando Ronaldo. O namoro adolescente durou pouco. Ronaldo foi embora para outra cidade, Lia mudou de escola e Denise entrou na faculdade. Os três seguiram suas vidas, se formaram, casaram e tiveram filhos. Passaram-se 25 anos. Até que o telefone de Denise tocou naquele fim de tarde de quinta-feira. — Então, Denise, você se lembra do Ronaldo? Fiquei anos sem notícia dele, mas acabei o encontrando no Orkut. Ele hoje é um engenheiro químico dos bons, mora fora do país com a família, mas chega semana que vem para dar uma palestra em São Paulo. Me mandou um e-mail no começo da semana. Pensamos em reunir a turma da época. Custei pra te achar, menina! Que saudades! “Saudades!”, duvidou intimamente, ao mesmo tempo que sentia renascer no coração o ressentimento, inacreditável por ter ficado adormecido por tantos anos. “E eu que achava que havia superado esta história”, pensou. A reação dela foi rápida: — É lógico que eu vou. É só me mandar as coordenadas por e-mail — mentiu. Quando desligou, correu para trocar de número, mandar tirar seu nome da lista e desativar o e-mail: “Eu é que não vou mexer em um sentimento que, tenho certeza, voltaria a doer demais, sem que eu pudesse exercer nenhum controle sobre ele”.

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