domingo, 25 de julho de 2010

18/01/2009 o escravo branco

Paulo ficou com um ódio mortal de Leilane quando ela lhe disse não. Afinal, os dois estavam a sós, ao lado daquela cachoeira, nus, e ele louco de desejo. Mas Leilane parecia não se importar com a sua presença. Era como se ele fosse só mais um elemento daquela natureza praticamente intocada. O pior momento foi quando ela, descalça, não conseguiu andar pela mata, por causa de espinhos. Ele, então, como um escravo branco, a pegou no colo e a levou para um gramado macio. E, mesmo assim, mesmo percebendo e sentindo a força de Paulo, Leilane se manteve impassível, pior que uma virgem. — Que cena mais bucólica foi aquela. Eu, com esse meu tamanhão, pelado, no meio do mato, carregando aquela morena no colo, que também estava nuazinha, sem conseguir dar nem um beijinho nela! Só pensava numa coisa: o que a turma lá da Mooca vai falar de mim quando souber dessa história? Fiquei com tanta raiva que, no fim do passeio, até xinguei a menina — me contou Paulo, dia desses. Leilane não era uma moça como as com que Paulo estava acostumado conviver. Ela fazia o tipo “alternativa”: gostava de comida vegetariana, meditava e era naturalista. Se conheceram naquela viagem. Dividiram o banco traseiro da Parati de Fábio, vizinho de Paulo e namorado de Aline, amiga de Leilane. Também dividiram o quarto na pousada barata de Carrancas, cidade no sul de Minas que na época começava a atrair amantes de ecoturismo. Paulo soube depois que Leilane só aceitou viajar como parceira de um completo desconhecido porque queria desaparecer de São Paulo por uns dias. Estava deprimida por causa da morte de um parente. Quando o convidou para a viagem, Fábio não lhe contou isso. Disse apenas que Aline ia levar uma amiga para dividir o quarto com ele, e que a menina era bonita. Paulo logo se animou. Ao vê-la no carro, naquele início de feriado prolongado, só conseguia imaginar “tudo” o que os dois poderiam fazer juntos. Mas Leilane queria paz. A última coisa que procurava era uma aventura amorosa. E, para piorar, Paulo sentiu que não a atraiu em nada. A moça vivia se esquivando dele e procurando o isolamento. Ele insistia de todas as formas, mas ela parecia não se importar em ser cruel. — Eu ainda tentei catá-la durante a noite. No quarto, eram duas camas de solteiro. Antes de apagar a luz para dormir, eu puxei a cama dela e a encostei na minha. E sabe o que ela fez? Me deu um beijo no rosto, me disse “boa noite”, apagou a luz e virou as costas para dormir. Me segurei para não fazer uma bobagem. No dia seguinte, brigamos e a xinguei de frígida. Mas hoje, pensando bem, acho que Leilane estava certa: não era afins, não deixou rolar. Mas eu por muito pouco não me transformei em um troglodita imbecil.

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