terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eles seriam felizes

Publicado em 18 de maio de 2008 da Diário Dez

Andréia tinha certeza: César fez o que era certo. Silenciou. Desapareceu. Na época, ela ficou triste. Aquele encontro, o primeiro depois de 25 anos, era o prenúncio de algo. Mas não devia prosperar.
Andréia e César eram colegiais quando namoraram. Juntos, conheceram o amor. Estavam apaixonados. Mas ela tinha 15 e ele, 18. E a família de César decidiu mudar de estado — o romance passou a ter data e hora para acabar.
Ficaram tristes, mas, na despedida, não houve choro ou promessas. Eram jovens e sabiam que não podiam esperar nada um do outro.
Durante dois anos, trocaram cartas e cartões de Natal. Mas, aos poucos, o distanciamento foi inevitável. A vida lhes deu uma profissão, casamento e filhos.
César se formou em Medicina. Andréia partiu para a Arquitetura. Nunca, porém, se esqueceram.
Um dia, por curiosidade, Andréia procurou o nome de César na internet. “E descobri o e-mail dele!”.
Mesmo com o coração acelerado, ela enviou uma mensagem cuidadosa, pois não sabia em que tipo de pessoa César tinha se transformado. Minutos depois, veio a resposta.
“Não acredito. É você mesmo? Que surpresa feliz!”.
Ficou decidido que iam se encontrar. Em duas semanas, ele participaria de um congresso e marcaram um almoço.
Na véspera, eles mal dormiram. Pela manhã, não fizeram nada direito. Meio-dia em ponto ela estava no saguão do hotel onde era o encontro. Ele já a esperava. Um se jogou nos braços do outro.
--Foi como um impulso. Era pura saudades”, ela lembra.
Caminharam até um restaurante ali perto, escolheram uma mesa ao lado de uma janela e começaram a contar o que fizeram da vida. Mostraram fotos dos filhos (cada um tinha dois) e dos companheiros e falaram de suas conquistas e perdas. E, em cada palavra, um percebia que o outro era feliz. Relembraram dos tempos de namoro e, quase ao mesmo tempo, pensaram: “Nós, juntos, também seríamos felizes”.
Num dado momento, sem que ela esperasse, César colocou a mão sobre a mesa e tocou a dela. Seus corpos tremeram.
Ao voltarem para o hotel, ele pôs o braço sobre os ombros dela e disse: “Eu não contei pra minha mulher que eu ia encontrar uma amiga”, ele disse. Andréia sorriu sem jeito porque, na sua casa, também havia feito segredo sobre o encontro.
A hora voou e eles tinham que voltar aos seus compromissos. Para ela, foi difícil entrar no táxi e deixá-lo novamente. Prometeram se ver mais e trocar mensagens. Ele pegaria o vôo para casa naquela noite. Depois de mais um longo abraço, Andréia entrou num táxi. Olhou para trás e acenou, até perdê-lo de vista.
Já se passaram três anos. Ela nunca mais soube dele.
— O que acha que aconteceu para ele nunca ter dado notícias? — eu lhe perguntei outro dia.
Sem nenhuma mágoa ou tristeza, ela respondeu:
— É que ele sabia que, se começássemos, nunca mais pararíamos.
:-)

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