quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Mais uma viagem

Publicado em 23 de março de 2008

Ela o viu pela primeira vez em uma viagem corriqueira de negócios e, me garantiu, nem lhe prestou atenção. Estavam no mesmo andar do hotel e se trombavam no elevador, no café da manhã, no hall e no bar. Mesmo assim, Marina jura que nem ligou para ele, assim, logo de cara. Marina era paulista, consultora de uma empresa de cosméticos. Tobias tinha assumido a gerência de compras de uma construtora do Rio. Para ela , a viagem era mais uma. Para ele, um desafio profissional que exigia muita concentração. Mesmo assim, traído pelo desejo, não parou de pensar na moça desde o dia em que chegaram e preencheram as fichas no balcão, um ao lado do outro. No elevador, ele tentava cumprimentá-la com um sorriso. Ela mal acenava com a cabeça. No hall, enquanto esperavam táxis para levá-los aos seus compromissos pela manhã, ele puxava conversa, mas ela não lhe dava bola. Foi assim durante toda a semana. Então, na última noite de Marina na cidade, ela estava com uma colega, no bar, quando Tobias se aproximou e se ofereceu para pagar uma bebida. Contou o que fazia, por que estava lá e quis saber: “E vocês, o que fazem aqui?”. Mas, enquanto Gisele respondia, Marina fez questão de não disfarçar um bocejo e anunciar que iria para o quarto. Tobias ficou furioso. Ele só queria conhecê-la e ela insistia com seu ar superior. Naquela noite, nem pensou direito nas compras que deveria fechar para a companhia no dia seguinte. Pela manhã, ela já não estava no café e ele não teve dúvidas: subornou o recepcionista e conseguiu o e-mail pessoal dela. Tinha um plano. De volta ao seu escritório, começou a enviar a Marina mensagens de amor. Em princípio, ela não entendeu direito. Demorou até lembrar quem era o autor. Gisele ajudou: “É aquele cara que você ignorou”. Na verdade, Marina parecia fria porque não estava na sua melhor fase. Acabara de terminar um casamento de sete anos, estava ferida e nada a estimulava para novos amores. E o pouco que ouviu sobre Tobias não era excitante. O rapaz tinha opiniões de direita, gostava de música sertaneja e de filmes de horror. Mas se mostrou um romântico virtual: primeiro vieram os poemas, depois as canções com foto anexada, e ela , que estava mesmo carente, topou encontrá-lo. Ele viria a São Paulo no fim de semana. Chegou sexta, deram um rolé pela Paulista e foram jantar. Depois, seguiram para o apartamento dela e, de lá, só saíram no domingo de manhã para ele pegar o avião. E foi justamente no café da manhã que ele, cruel, contou: “Olha, sou casado”. Marina quase morreu. Mas um fim de semana de sexo de alta qualidade já havia sido o bastante para deixá-la apaixonada e ela topou continuar com aquilo. Ele voltou mais umas três vezes a São Paulo, mas quando ela foi ao Rio, a pressa do rapaz para deixá-la porque tinha que assistir ao balé da filha a arrasou. Aos poucos, as mensagens se transformaram em patadas verbais e foram rareando, até que desapareceram, junto com ele. E Marina, até hoje, chora de saudades.

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