quarta-feira, 14 de outubro de 2015

05/12/2010 - A sabedoria da tia-avó

Meire deveria ter dado ouvidos à sua tia-avó. Mas, no auge dos seus 24 anos, achava que a opinião de uma velha viúva de 70 anos, mesmo sendo a pessoa mais avançada que
conhecia, era uma grande bobagem.

Afinal, seus pensamentos só podiam estar poluídos por preconceitos. A opinião da senhora sobre
o novo namorado de Meire foi direta. Num domingo, quando a família estava reunida para o almoço, a tia quis saber o porquê de tanta felicidade da sua sobrinha preferida.

—Estou namorando, tia.

Ele é o máximo.Virá aqui hoje e vou apresentá-lo a todos.

—Nossa, quero conhecer.

Como ele é, quantos anos tem? Já estão pensando em casar?

—Lógico que não, tia. Ele é 15 anos mais velho que eu e acabamos de nos conhecer. É um homem centrado, maduro. E já foi casado... três vezes.

—Olha, minha filha, se já teve três mulheres, desiste logo porque é fria.

A moça ficou desconcertada. Nunca tinha imaginado que a tia-avó tão moderna, que morou sem casar com um homem, que foi a primeira a fumar da família, que até pulou de paraquedas, pudesse ter uma opinião tão careta. Só podia ter regredido.

Decidiu deixar pra lá. Naquele mesmo dia, a tia querida e o resto da família conheceram Carlos e todos se apaixonaram por ele. Ela e a tia não tocaram mais no assunto.

Um ano depois, Meire e Carlos resolveram morar juntos. O casal era impecável. Daquele tipo que todos, amigos e parentes, dizem ser perfeito. Combinavam em gostos e opiniões. Nunca brigavam. Até sobre os filhos, que os dois tinham tido em relações anteriores, eles concordavam.

A sintonia era tanta que apenas morar juntos não bastava. Resolveram casar, fazer festa, formalizar sua felicidade.

Ela, relações públicas, e ele, administrador de empresas, montaram um belo apartamento na Vila Mariana. Ela levou a filha, que já tinha 7 anos. Ele montou um quarto para o filho, que estava com 9. A vida dos dois, aos olhos de quem via de fora, era perfeita. Mas, dentro de casa, a vida íntima do casal era cada vez mais tensa.

Durante o namoro,Meire diz que não gostava de algumas manias de Carlos. Mas, apaixonada, achava que era coisa da cabeça dela. Hoje, se arrepende de ter deixado de lado sua intuição.

—Quando íamos ao motel, eu não gostava, mas achava natural vê-lo sempre colocar a TV no canal de filmes adultos. Já tinha tido outros namorados que também gostavam. Mas um dia tivemos que mudar de quarto porque o canal pornô do nosso estava fora do ar. Ele fez um escândalo.

Casada, Meire começou a perceber que o amor nunca tinha preliminares. Ela reclamava, mas Carlos não mudava. Depois do jantar, ele sempre ficava no computador. Quando ela se aproximava, percebia
que estava em um site pornográfico.

A situação passou a incomodá-la demais na medida que constatou que, imediatamente após desligar o computador, ele a procurava na cama, sem nenhum jogo de sedução para excitá-la.

—E, depois do sexo, virava e dormia. Se eu gostei, ele nem queria saber — lembra.

Foram dois anos de convivência.

O “problema” a fez ficar doente e perder o emprego. Até que, numa reunião de família, reencontrou a velha tia-avó. A idosa era dona de uma ótima memória. Vendo a sobrinha tão abatida, quis saber:

—Então, filha? Pelo jeito, já descobriu por que seu marido já se separou três vezes, não é?

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