segunda-feira, 23 de novembro de 2009

História diferente

13 de abril de 2008

A história da Branca começa como a de muitas mulheres. Ela era muito jovem quando se casou com Leopoldo, já grávida. Primeiro namorado, tinha por ele uma paixão avassaladora. Nos primeiros anos juntos, ela se sentia feliz. Sonhava viver toda vida com ele.
Para ajudar nas contas da casa, abriu um pequeno bazar no bairro onde moravam. Dava duro, mas ganhava pouco. Leopoldo era autônomo. Intermediava a venda de vários produtos, de jóias a equipamentos eletrônicos, e conseguia algum dinheiro. Não faltava o básico na casa. E, quando precisavam de algo a mais, o pai de Leopoldo, oficial aposentado do exército, sempre ajudava.
Tiveram o primeiro filho, um menino, e, dois anos depois, nascia uma garotinha. Após seis anos juntos, conseguiram comprar uma casa.
Leopoldo, porém, começou a mudar. Ele já não era carinhoso. Conversava pouco e voltava tarde. Quando ela perguntava o que acontecia, acabavam brigando.
Branca, desconfiada que o marido tinha outra, resolveu investigar. Um dia seguiu Leopoldo e o viu com uma moça, aos beijos, em um bar. Mas não era mulher de escândalos. Voltou para casa chorando e, quando ele chegou, não lhe disse nada. E também nunca mais tentou reconquistá-lo.
Secretamente, Branca planejava uma forma de acabar com seu casamento. Precisava ter dinheiro para viver com os dois filhos — o que ganhava no bazar não os sustentava. Ela também arrumou um amante.
“Foi por vingança. Mas o Leopoldo descobriu e a vida virou um inferno. Ele passou a me humilhar e exigiu a separação. Não adiantou eu dizer que sabia que ele também tinha outra”, me contou Branca.
O marido quis metade de tudo o que tinham. E o bazar teve que ser vendido. Branca sabia, porém, que o pior viria na hora de discutirem a pensão das crianças. Ela não tinha como provar quanto Leopoldo ganhava. E ele já avisara: lhe daria o mínimo possível.
“Ele queria me ver na miséria e fazer as crianças terem raiva de mim”.
Foi aí que Branca fez a sua história ser diferente da de outras mulheres que se separam: no fórum, na hora de definir o valor, ela disse ao juiz:
“Doutor, vou abrir mão da guarda. Não tenho como criá-las”.
Leopoldo ficou pálido: nunca quis ficar com os filhos. Mas seu pai tinha dinheiro e o juiz aceitou.
Muita gente a criticou.
“Como uma mãe abria mão assim dos filhos?”
Mas ela me disse que foi o melhor que podia fazer.
“Eles não passaram pela falta de dinheiro que eu tive que enfrentar. Está certo que cresceram na casa do pai, mas sempre foram muito mais próximos de mim”, conta.
Quando havia algum problema, Branca era acionada por telefone. Aos poucos, ela refez sua vida, reabriu o bazar e hoje tem duas lojas.
“E os meninos, quando puderam, escolheram morar comigo”.

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