sexta-feira, 23 de agosto de 2013
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Mulher de Polícia
— Eu já fui mulher de polícia, Vivi , mas também já fui mulher de bandido. De ter que levar o rancho na cadeia pra ele. O pior é que não fui sozinha. Fui junto com a esposa dele. Aliás, uma mulher maravilhosa.
Regiane conheceu Lauro na porta da delegacia, no primeiro dia de trabalho.
— Passei no concurso de escrivã e me mandaram pra Delegacia da Mulher. Lauro era o único homem que trabalhava lá. Era o investigador. Me apaixonei.
Os dois começaram um namoro às escondidas, que mais parecia um caso. Ele dizia que preferia não abrir a relação na DP, para não dar o que falar. O que adoravam eram os plantões de fim de semana, quando poucos policiais estavam na delegacia e o delegado dava uma saída.
— A gente fazia amor na mesa do titular, no meio dos inquéritos, ou naquele sofazinho sem-vergonha que tem lá. Era uma aventura — lembra Regiane.
Um dia, porém, Regiane estava fumando na porta da delegacia quando uma mulher chegou segurando um molequinho pela mão. O garoto era a cara do Lauro:
— Oi, o Lauro está?
— Não. Ele está em diligência.
— Ah! Então eu vou esperar, tudo bem?
Luzia sentou-se no banco do corredor, bem na frente da sala de Regiane. O investigador estava demorando para voltar e Regiane, então, decidiu puxar conversa com a mulher. E descobriu que Luzia era casada com Lauro e que tinham três filhos. O curioso é que, daquela conversa rápida, surgiu uma simpatia mútua. Ou seja, uma gostou muito da outra. A mulher era doce e delicada. Parecia ingênua demais para estar casada com um homem acostumado com crimes.
Quando Lauro chegou e viu as duas conversando, primeiro ficou branco de medo e, depois, vermelho de raiva:
— O que você veio fazer aqui? Vamos embora que isso não é lugar pra você.
— Tchau, Regiane, gostei muito de conhecer a parceira do meu marido. Seremos amigas!
Regiane teve uma briga feia com Lauro, mas faltou coragem para terminar o romance.
Já Luzia passou a lhe telefonar e a lhe fazer confidências sobre o casamento. Ela acreditava na fidelidade do marido, mas estranhava algumas viagens sem explicação. Regiane também achava que havia algo estranho, mas nunca tinha flagrado nada. Numa quarta-feira, porém, Lauro foi preso com uma boa quantia de cocaína. Tinha mudado de lado: de polícia, virou bandido.
— Luzia me ligou, desesperada, e me pediu para tirá-lo da cadeia. Foi aí que eu, que tinha acabado de me formar em direito, assumi a causa.
No sábado, Regiane e Luzia foram visitar o novo traficante na cadeia. Cada uma com uma sacola cheia de comida, de produtos de higiene e de cigarros. Quem via, imaginava que Regiane era a mulher. Porque ela chorou sem parar e mal conseguiu articular uma palavra quando o viu, completamente derrotado.
Publicado na Diário Dez! em 5 de outubro de 2008
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